segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Os melhores filme nacionais de todos os tempos

É realmente difícil falar sobre filmes nacionais aqui em nosso país. Isso porque o interesse em produzir obras de qualidade é muito recente: não há história, não há incentivo e não há na cultura de nosso povo interesso pelo que é produzido por aqui. Claro que esse cenário está mudando, não é a toa que o primeiro lugar dessa lista é um filme de 2010. Porém ainda no nosso cenário 90% dos filmes brasileiros podem ser enquadrados em 3 categorias: os filmes sobre os bandidos do rio de janeiro, os filmes sobre os miseráveis imigrantes nordestinos ou os filmes protagonizados por Selton Mello. Não querendo menosprezar nenhuma das três categorias pois há muita coisa boa incluída dentre elas, mas a falta de criatividade por aqui ainda é algo que incomoda. Pode ver que por ex, quando lançaram o filme de Chico Xavier (que era algo fora das categorias base dos filmes nacionais), esse teve muito sucesso e não deu outra – logo veio outro filme espírita (Nossa Lar) e já há dois outros em produção. Ou seja, por mais que os intelectuais nacionais lutem para defender nossa produção, fica difícil. Você pode pensar “mas em Hollywood também se faz 20 filmes sobre o exato mesmo assunto” a diferença é que lá se faz 1000 vezes mais filmes do que aqui, que há 100 vezes mais categorias e todo ano surge uma categoria nova.
Agora, meu o objetivo do meu post não é nem de longe ficar aqui xingando os filmes nacionais. Pelo contrário, meu objetivo foi mostrar que há bons trabalhos por aqui sim e selecionar alguns imperdíveis. Então aqui vai os 13 filmes nacionais que eu considero os melhores de todos os tempos:


13- Olga (2004 – Direção Jayme Monjardim, com Camila Morgado, Caco Ciocler, Fernanda Montenegro)
Desde pequenos nós assistimos as inúmeras tentativas de nossas professoras de história de ilustrar suas aulas com filmes sobre elas. Foi assim que assistimos 4 vezes Carlota Joaquina a princesa do Brasil, guerra de canudos, revolução farroupilha, Zuzu Angel etc. Nenhum chegou tão perto do drama perfeito como Olga. O filme conta a história de Olga Benário Prestes, sim, a esposa de Luis Carlos Prestes. Olga além de ser alemã e judia em uma época que tentava se esconder isso a todo custo, ainda tinha idéias comunistas. Nem é preciso dizer que a coitada é esculachada o filme inteirinho. Muito mais do que isso o filme é uma história de amor, pelo filho, pelo marido, mas também por seus ideais. Camila Morgrado fez um papel brilhante e Jayme Monjardim que até então só fazia novelas praticamente, também não decepcionou. Vale a pena!

12- Bicho de 7 Cabeças (2001 – Direção Láis Bodansky, com Rodrigo Santoro, Cássia Kiss)
Com certeza esse filme foi 10 degraus a cima na jornada de nosso mais meigo mocinho das novelas para Hollywood. O filme é sobre um jovem de classe média que é internado por seu pai em um manicômio após ser pego com um cigarrinho de maconha. É óbvio que aquele não era o lugar dele e foi uma verdadeira tempestade em copo d´água. E que tempestade ein! Foi a passagem para o inferno, sair de sua rotina e cair na desgraça. O filme, apesar da história já meio batida até internacionalmente, se torna muito interessante por causa de Rodrigo Santoro. Os mais sensíveis chegam a chorar pela situação do rapaz. Em um mesmo filme você sente raiva, indignação, medo, pena, seu coração bate mais forte em algumas horas, em outras as lágrimas começam a incomodar seus olhos. Muito bom!

11- Redentor (2004 – Direção Cláudio Torres, com Miguel Falabela, Pedro Cardoso, Camila pitanga, Fernanda Montenegro)
O menos famoso da minha listinha, mas um que eu faço questão de colocar aqui. Célio Rocha é um jornalista encarregado de cobrir a história por trás da falência de uma das mais tradicionais famílias cariocas. O detalhe é que o protagonista dessa história, Otávio Sabóia, foi amigo de infância de Célio, e seu pai, o famoso dr. Sabóia tinha dado o golpe em milhares de cariocas, incluindo o pai de Célio. Ou seja, ao entrar nessa história o jornalista se divide em ajudar seu amigo de infância, ou vingar o golpe dado em seu pai. Só que por trás de tudo isso vem a participação especial do cristo redentor na história. Sim, um enredo repleto de ficção, religião e milagres o que deixa a história muito interessante. Sempre quando escrevo esses posts tenho a esperança de indicar algum filme que a pessoa ainda não tenha visto. Talvez esse seja a chance. Vale a pena conferir.

10- O que é isso Companheiro (1997 - Direção Bruno Barreto, com Fernanda Torres, Pedro Cardoso, Cláudia Abreu, Matheus Nachtergaele, Luis Fernando Guimarães)
O mais antigo dessa minha lista, o primeiro bom filme brasileiro em minha opinião. Em primeiro lugar porque gosto muito do Bruno Barreto, em segundo lugar porque a seleção de artistas foi ótima e em terceiro lugar porque o filme é muito bom mesmo. A história é a de um seqüestro em meio a ditadura militar. Concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro da época e foi um dos filmes brasileiros de mais sucesso no exterior lançado com o nome de “Four days in September”.


9- Se eu fosse Você (2006 – Direção Daniel Filho, com Tony Ramos, Glória Pires)
O representante das comédias românticas aqui da minha lista. Se bem que é tanta comédia que o romance fica de lado. O filme tinha tudo para ser mais um qualquer: afinal tem coisa mais batida que fazer humor fazendo homem se vestir de mulher e vice-versa… acho que não! Contudo, Se eu fosse Você está longe de ser só mais um. O filme é muito, muito mas muito bom! Quando eu fui ver esse filme no cinema eu não sabia se ria mais do filme ou das gargalhadas alheias. O filme é a história de um casal que por forças do além troca de corpo. Resultado: um cara mariquinhas e uma mulher machão. Eu nem preciso dizer aqui que Tony Ramos e Glória Pires estão ótimos, porque isso já é mais do que sabido. A interpretação de ambos é tão boa que os expectadores já saíram da sala de cinema pedindo pela versão 2 do filme. Com certeza falando em comédia pura, essa é a melhor do Brasil.
8- Tropa de Elite (2007 – Direção José Padilha, com Wagner Moura, Caio Junqueira, André Ramiro)
Falar de tropa de elite fica difícil após assistir tropa de elite 2. A continuação do filme é tão boa que faz essa primeira ser taxada de burra. De fato não é. Digamos que é o mesmo problema sobre perspectivas diferentes: no primeiro a “culpa” pela violência é dos traficantes e usuários de drogas, no segundo a corrupção fica encarregada dessa “culpa”. O filme é de fato, muito bom. Realista, bem dirigido, prende muito bem nossa atenção do começo ao fim. O troféu, porém, fica para Wagner Moura. Ele é a base, a alma e a essência do sucesso de tropa de elite. Eu nem digo que foi um show de interpretação, mas sim uma incorporação do personagem. O resultado é imperdível, mesmo para aqueles que abominam violência nas telinhas, tem o dever de prestigiar.
7- Carandiru (2002 – Direção Hector Babenco, com Rodrigo Santoro, Milton Gonçalves)
Não recomendável para quem não gosta de filmes pesados. Aliás esse filme só não está mais alto em minha lista pelo peso exagerado de suas cenas. Apesar disso é muito bom, e eu sei que eu estou falando isso para todos dessa lista, mas é porque são muito bons mesmo. O filme é baseado no livro “estação Carandiru” do médico Dráuzio Varella. Nesse livro, Dráuzio relata experiências próprias sobre a dura realidade dos presídios brasileiros em uma campanha de prevenção á AIDS. Esconder a realidade não é a função do filme. Nele você vê cenas de homossexualismo, de violência, de estupro, vê um ser humano ser queimado vivo, dentre outras delicadezas. A exposição a violência porém não tira a essência do filme, um dos melhores já realizados por aqui.

6- Estômago (2007 – Direção Marcos Jorge, com Paulo Mickos, João Miguel)
Também no hall dos menos famosos da lista, esse filme é o mais criativo dentre os outros citados. Isso que é a história de um imigrante nordestino em busca de uma vida melhor em São Paulo e que vai parar na cadeia. Sim, clichê em cima de clichê, mas o detalhe é que toda essa história é contada sob um ponto de vista diferente: o da culinária. O filme que mistura drama e comédia é passado paralelamente em dois planos: o de Nonato (protagonista) como presidiário, e o de Nonato em busca de uma vida melhor em São Paulo. O filme inteiro te intriga a descobrir porque aquele doce nordestino está agora preso. Você só vai descobrir na última cena, que por sinal é sensacional. O desfecho que na verdade é a ligação entre os dois planos do filme é o clímax. Para nós curitibanos, o filme tem ainda mais uma atração: boa parte das cenas foram gravadas aqui em nossa cidade. A cadeia onde se passa metade da história é o desativado presídio do Ahú e boa parte das cenas urbanas foram gravadas no largo da Ordem. Se você ainda não viu, corra lá ver!!

5- Meu nome não é Johnny (2008 – Direção Mauro Lima, com Selton Mello, Cléo Pires)
Para você que estava sentindo falta da terceira categoria de filmes citada na introdução do post aqui vão dois filmes seguidos protagonizados por Selton Mello. O filme é a história verídica de João Guilherme Estrella, um traficante da zona sul do Rio de Janeiro. João era um jovem de classe média muito popular. Todos o adoravam e fazer festas e tudo de proibido ligado a elas era sua especialidade. Até que um dia ele resolve se envolver no mundo do tráfico onde se torna um rei. Até ser pego e ter que contar toda a sua história de vida diante do tribunal. O mais fantástico é que o personagem é tão bonzinho e bem feito (claro, afinal de contas estamos falando de selton Mello) que apesar dele fazer tudo de errado você sente pena e torce por ele. É o melhor filme protagonizado por Selton dos últimos anos.

4- O Auto da Compadecida (2000 – Direção Guel Arraes, com Selton Mello, Matheus Nachtergaele, Fernanda Montenegro)
Não só esse filme como o livro e principalmente a peça teatral de Ariano Suassuna são fantásticos. Eu, particularmente, já tive a oportunidade de prestigiar os três e posso afirmar que o filme não ficou para trás. No começo João Grilo e Chico (Matheus e Seltom, respectivamente) dão um show de traquinagens pelo sertão nordestino. As mentiras de Chico no meio de animações para ilustrar seus pensamentos são o auge das cenas que se passam aqui na terra. O grande destaque é na verdade o juuízo final. João Grilo que só aprontou a vida inteira se vê em meio ao céu e a o inferno. Chegou a hora de decidir que destino tomará o cabra. Sério só de escrever a história por aqui já dá vontade de ver o filme de novo. Isso que eu á vi umas 4 vezes. Imperdível.

3- Central do Brasil (1998 – Direção Walter Salles, com Fernanda Montenegro)
Não poderia faltar uma obra de Walter Salles nessa lista, com certeza não. Dora é uma mulher que trabalha na estação Central do Brasil escrevendo cartas para pessoas analfabetas; uma de suas clientes, Ana aparece com o filho Josué pedindo que escrevesse uma carta para o seu marido dizendo que Josué quer visitá-lo um dia. Saindo da estação, Ana morre atropelada por um ônibus e Josué, de apenas 9 anos e sem ter para onde ir, se vê forçado a morar na estação. Com pena do garoto, Dora decide ajudá-lo e levá-lo até seu pai que mora no sertão nordestino.Voltando a falar nas categorias citadas acima, tem a de histórias de miseráveis imigrantes nordestinos. Nessa categoria poderíamos citar os famosinhos “Dois filhos de Francisco” ou até “Lula, o filho do Brasil” ou então outros muito bons como o próprio “Estômago”. Sem dúvida nenhuma, porém, a obra prima dessa categoria está aqui em Central do Brasil. O filme é fantástico no que se trata de interpretação, contextualização, cenário, drama, tudo. O mais importante de tudo isso é o relato de uma verdadeira e profunda amizade.

 2- Cidade de Deus (2002 – Direção Fernando Meirelles, com Matheus Nachtergaele, Alice Braga, Seu Jorge)
O melhor filme de ação do Brasil e um dos melhores do mundo. Isso não sou eu que estou falando, em 2009, o filme foi escolhido como um dos 100 melhores filmes de todos os tempos pela revista TIME e nesse ano, o sexto melhor filme de ação da história pelo jornal britânico The Guardian. Quem não se chocou com o mais famoso jargão do filme: “Dadinho é o caralho, meu nome agora é Zé pequeno”, gente mas o que aconteceu com o dadinho!! O que aconteceu com o dadinho, aconteceu também com boa parte das crianças criadas em meio a violência: acabaram parte do sistema. O filme mostra isso muito bem. O destaque verdadeiro porém vem mesmo das cenas de ação. A abertura do filme e a perseguição da galinha é fantástica! Dali se vê que você não está perdendo tempo sentado na cadeira do cinema. Com certeza uma obra prima do cinema nacional.

1- Tropa de Elite 2 (2010 – Direção José Padilha, com Wagner Moura, André Ramiro, Seu Jorge)
Um filme muito mais inteligente que o acostumado a ver no cenário nacional. Menos violência, mais corrupção. O choque do expectador é o mesmo: foi provado que para passar a mensagem não é preciso sangue e tortura mas apenas uma exposição real do que acontece por trás dos bastidores. Para você que não viu ainda e pensou “putz, não vai me dizer que o tropa de elite 2 virou filme de mariquinha”, não se preocupe, capitão (aliás comandante) Nascimento continua batendo com raiva na galera, o que resulta no clímax do filme. Um dos poucos filmes nacionais que conseguem fazer os expectadores refletirem, sentirem raiva, indignação e outra boa quantidade de sentimentos misturados. Essa é a glória de uma produção: não servir apenas de bom entretenimento durante suas duas horas de duração, mas continuar surtindo efeito após os espectadores saírem do cinema.

Um comentário:

  1. Cara, indubitavelmente tem grandes produções aí na sua lista. Mas acho que o seu critério é definitivamente insuficiente para lidar com o cinema brasileiro como um todo: se a lista pretende incluir os melhores de todos os tempos então ela deve procurar resgatar antigos projetos de uma cinematográfia brasileira, projetos estes que revelam o contrário de algo que você falou: o interesse em produzir obras de qualidade é bem antigo.
    Dê uma olhada no movimento chamado "Cinema Novo" encabeçado por figuras como Paulo César Saraceni, Ruy Guerra e principalmente Anselmo Duarte e Glauber Rocha. Quanto as esses ultimos, é possível que você encontre obras deles em listas de melhores filmes já feitos na história do cinema; o filme "Pagador de Promessas" do Duarte, de 62, foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Este projeto acabou morrendo no fim dos anos sessenta e o desenrolar do tempo realmente acaba confirmando as afirmações nesse artigo interessante. Se de alguma forma fui arrogante, peço sincero perdão, procuro apenas discussão.

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